14 de ago. de 2011

Sussurro sem som
onde a gente se lembra
do que nunca soube.

(Guimarães Rosa apud Tâmisa)

31 de jan. de 2011

Procura-se



Leda Márcia Rizzardo Pareja

Procura-se alguém que saiba viver por muitas pessoas. Que saiba chorar na vitória e chorar na derrota, sorrir para consolar, sorrir para agradar. Que grite diante da traição e das injustiças, que saiba o que é certo e o que é errado, que defina as melhores coisas das piores, que ame seu próximo, auxiliando-o. Diante das brigas, construa a amizade. Que estenda a compreensão entre todos os povos. Que assuma o poder do amor, da convivência. Que não seja apenas um corpo entre muitos, com cabeça, dois olhos, braços, pernas, coração. Que seja, além disso, “gente”, que com os olhos enxergue a realidade, com o nariz sinta o aroma da união, que com os ouvidos ouça todas as verdades verdadeiras, que pise sobre as ruas da alegria, praças da ilusão, bosques da esperança: que ofereça seus braços diante da solidão e do abandono. Que construa a única casa com tijolos diferentes e derrame, sobre eles, o cimento da paz.
Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, da madrugada, de pássaros, de sol, da lua, do canto dos ventos a das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar. Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois, todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja de todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vazio que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoas tristes e compreender o imenso vazio dos solitários.
Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer. Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações da infância. Precisa-se de um amigo para não enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.
Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo.
Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que bata nos ombros sorrindo e chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se consciência de que ainda se vive.

O caráter singular da língua na Análise de Discurso[1]

Heloisa Cristina Rampi Marchioro [2]             O artigo de Maria Cristina é introdutório, e tem como tema principal falar sobre a...