15 de nov. de 2010

O café

Meu dia tem pequenas tarefas que se seguem, executadas, uma após a outra, como rituais que sigo sem pensar, por fé ou precaução. Este meu dia começou cedo já que o sono é coisa rara. Levanto-me, faço cada coisa cronometradamente até a hora exata de sair. O café tem sempre o mesmo gosto. Às vezes minha mãe me pergunta se eu gosto mais da marca de café que ela comprou esta semana. Bah, nem me dei conta que mudou.
Como sou professora meus dias de trabalho nunca são os mesmos. Mas os rituais permanecem. Bater o ponto, abrir a sala, receber os alunos, distribuir as tarefas. Tomar um café – este sim eu percebo que não é bom como o lá de casa. Recolher as tarefas, me despedir dos alunos, fechar a sala, bater o ponto. A tarde é quase idêntica.
À noite, sempre cansada, vou pra aula e estende-se o rol de tarefas. Quando, finalmente reencontro o travesseiro, parece que décadas se passaram. Todos nós temos a vida assim, permeada por regras, com um relógio que às vezes marca dez minutos por dia, outras vezes marca semanas infindáveis.
Vez ou outra olho o céu, para tentar me lembrar de quem sou. Mas isso também se tornou uma rotina. Gosto dos meus dias, dos meus ritos, mas me pego pensando que isso é meio tornar-se animal, executando tarefas sem saber nem o porquê. Quando olho a lua, me olho de fora pra dentro, e percebo que o bonito da vida é vivê-la em cada ritualístico minuto, curtindo o aroma do cafezinho igual de cada sublime manhã.

O caráter singular da língua na Análise de Discurso[1]

Heloisa Cristina Rampi Marchioro [2]             O artigo de Maria Cristina é introdutório, e tem como tema principal falar sobre a...